Encolhida na cama e enrolada com um fino lençol de seda eu me aquecia sem o calor que emanava de seu corpo. Frio, faz muito frio. Chovia muito forte lá fora, com trovoadas que me faziam tremer de medo. O mundo iria acabar, com toda a certeza. Era chegada à hora final. Aquele tão slide clichê que passa por seus olhos na hora da morte possuiu meus olhos e minha mente por alguns instantes. Minha primeira bicicleta, a praia que costumava ir todas as férias, os colégios, amigos, família e… Você. Você, que apareceu por último em minha mente, como se minha consciência o deixa-se por ultimo para me dar mais forças para seguir em frente… Você garoto, que tanto amo e desejo… Por onde andas meu amado, por onde andas meu coração? Ele se foi contigo, tenho certeza, pois há aqui dentro um vazio.
Quero correr, no meio da raivosa chuva ao seu encontro. Já não sinto mais tão medo assim dela. Meu maior medo agora é a que a sua ausência se perdure. Quero correr através da chuva para abraçar-te com toda a força, fazer dos meus braços uma prisão para que seu corpo permaneça colado no meu. Este desejo me impulsiona e me faz levantar da desarrumada cama para ir a sua procura.
A tempestade parecia mais forte agora. A água lavava o meu rosto de todas as lágrimas, o vento levantava meu simples vestido, que agora já estava ensopado… Por onde andas meu bem aventurado amor, dono do meu coração, da minha alma, do meu ser.. Estás pensando em mim? Isso não consigo responder…
Sereno, Sereno. Agora a névoa. A tempestade se foi, o sol já apareceu no horizonte e ainda não o encontro… Estou perdida, no meio de tanta confusão. Estou perdida no meio dos meus pensamentos. Estou tentando te encontrar em vão. Meus cabelos já estão quase secos, porém as lágrimas insistem em escorrer pelo meu rosto.
Nuvens no céu cobrem o fraco sol. Irá chover novamente. Tenho que procurar um abrigo para me proteger, porém, não irei, não posso. Meu desejo de te encontrar é muito maior e mais forte. Já estou embriagada de sono, porém não irei desistir. Cair e levantar faz parte do percurso. Por onde andas meu bem querer? Estou morrendo de saudades de você, que chega até a doer.
Agora ando sem rumo, querendo te encontrar, mas sem saber te procurar. Quero-te desesperadamente meu bem, quero teu cheiro, teu sabor, teu toque sobre a minha epiderme, aquecendo-a e arrepiando-a.
Tomada de sono que não vejo mais por onde ando. Minha visão está embaçada, pernas cansadas e corpo congelado. Sinto alguém me abraçando, uma voz angustiada, a sua voz, para ser mais exata. Será você mesmo amor? Ou finalmente cedi ao sono e estou sonhando?
Teu cheiro, eu creio, não seria capaz de imaginar. Porém, não vejo nada, não vejo-te, só sinto-te… Será mesmo real?
Acordo ainda com a incerteza da imaginação, e me deparo em casa, na cama desarrumada, com uma simples decoração, que foi gentilmente suplementada de flores, elas de todas as cores. Cartão… Procuro um cartão, e o encontro no travesseiro ao lado. É a sua caligrafia, meu amado. Nele, havia somente cinco palavras: “Eu te amo. Volto logo”. Isso me animou de um jeito inexplicável. Vou à janela. É noite. Tempestade. Noite fria, noite fria.

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